quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Metodologia para Tuning de Procedimentos - Parte 1

É comum no meu dia-a-dia receber chamados para a otimização de um determinado procedimento ou query que está demasiado lento. Para realizar uma tarefa como esta, o banco nos oferece diversas ferramentas que facilitam bastante a nossa vida, porém sem uma metodologia adequada elas podem não só se mostrarem ineficientes como também prejudicar o processo como um todo.

É por este motivo que eu gostaria de iniciar hoje uma discussão sobre uma metodologia para otimização, focando principalmente em código PL/SQL, mas também comentando alguns aspectos sobre o tuning de querys. Esta é a parte 1 de uma série de artigos que virão na sequencia para comentar sobre este tema.

O primeiro critério para um tuning bem sucedido é a reprodutibilidade. De modo geral eu costumo gastar um bom tempo na preparação do ambiente para que eu possa reproduzir a situação-problema inúmeras vezes. Dependendo do processo isso vai envolver apagar dados de tabelas chave, salvar valores de colunas numa tabela de backup, truncar tabelas inteiras... enfim, é importante mapear todas as condições para um restart limpo e deixar elas a mão em um script de limpeza (pode ser o próprio script de execução da rotina), pois a cada modificação do cenário é necessário recomeçar do zero ou corremos o risco de obter uma falsa sensação de objetivo cumprido e o processo voltar a dar problema nas mãos do usuário.

Uma ressalva importante na questão da reprodutibilidade é que você não pode ignorar as características do banco, ou seja, não se trata apenas de código pois algumas features fundamentais que fazem o banco Oracle ter uma performance excelente podem atrapalhar você na hora do tuning.

Vai ficar mais claro com um exemplo: suponha que o problema da sua query está diretamente relacionada a um excesso de I/O físico (physical reads). No caso, ao executar ela pela primeira vez ela estará bastante lenta... aí você modifica um ou outro código e bota ela para rodar de novo. Para sua surpresa a query executa quase instantâneamente! "Problema resolvido!" você pensa, mas pode estar muito enganado! Acontece que ao executar a primeira vez a query os blocos das tabelas estavam no disco e não na memória... um cache miss no db block cache então solicita a carga das tabelas para memória (este é um processo lento). Ao executar a segunda query, independente dela ser diferente ou não, seu tempo de acesso vai ser mais rápido porque o cache miss agora é um cache hit, ou seja, o banco vai acessar diretamente o dado das tabelas em memória e o gargalo do I/O físico vai aparentemente desaparecer, para voltar apenas quando os blocos em cache forem aged out (removidos).

Uma forma de se ver livre deste viés é fazer um flush do buffer cache:

Alter System Flush buffer_cache;

Porém jamais faça isso em produção, pois este comando não é nada seletivo e todos os blocos em memória são descarregados para o disco. Seus usuários agradecem!

Outro fator que pode impactar é o parsing da query. No Oracle existem duas formas de parse: o hard parse e o soft parse. No hard parse é feita a completa validação e avaliação da query, desde a elaboração do melhor plano de execução até a construção do result set. Este parse é bastante demorado em função de que diversos algoritmos são aplicados para escolher o plano ótimo. Por outro lado, o soft parse se baseia num plano de execução pronto e após uma validação mais rápida da query parte direto para a fase de execução (execute) e aquisição (fetch) dos dados. Por este motivo o soft parse é muito mais rápido e é sempre desejável.

Agora, sempre que uma query não está em memória o Oracle necessita fazer um hard parse, mas uma vez carregada ele vai fazer o soft parse sempre que possível. Portanto, ao executar pela segunda vez uma query a tendência é que ela seja mais rápida por não necessitar mais do parse completo. Mais uma vez existe um comando para eliminar este viés, que é:

Alter system flush shared_pool;

Estes dois comandos são um tanto radicais, pois ambos destroem completamente os dados carregados em memória. Por isto, não recomendo o seu uso exceto em ocasiões muito especiais. Além disto, existem algumas formas de contornar estas otimizações do Oracle de forma menos agressiva, como por exemplo, no caso do parsing, executar um gather stats da tabela alvo com o parametro no_invalidade=>false. Este parâmetro força a reavaliação dos planos de todas as querys que dependem da tabela. Ou ainda, se o parâmetro cursor_sharing da instância estiver setado para exact, basta fazer uma modificação simples da query como inserir um espaço em branco ou modificar a caixa de uma letra que a query será tratada como uma query totalmente nova (a comparação das querys no Oracle é textual/binária).

No caso do db block cache, eu procuro nivelar o terreno para o tuning desconsiderando a primeira execução e utilizando como métrica sempre a segunda em diante. Existem algumas outras técnicas, mas para não me estender muito vou deixar para comentar sobre isso num post futuro.

Sumarizando então o tópico da reprodutibilidade, é importante garantir uma metodologia para executar o procedimento sempre nas mesmas condições, tanto em termos de dados como de infraestrutura de banco. Esta preocupação é necessária para termos uma baseline para trabalhar com a qual poderemos medir as influências das nossas alterações e identificar resultados positivos e negativos das intervenções. Existem alguns fatores externos que também devemos sempre procurar minimizar, como por exemplo, a concorrência, mas nem sempre temos poder sobre isso... neste caso o importante é lembrar que ela existe e que o seu resultado nem sempre estará "puro".

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